sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vó Dedé


                                Vó Dedé

Silvia Britto

Como estar em São Luis e impedir que a infância me invada o coração, cheia de lembranças de pessoas inesquecíveis e queridas? Vó Dedé é um dos personagens mais marcantes e inesquecíveis que já cruzaram o meu caminho.
Nascida Edeltrudes Aranha, casa-se muito nova com Edmar Britto. Logo lhes nasce o primeiro filho, meu pai, a quem foi dada a honra de receber o resultado do enlace dos nomes do jovem casal: Edelmar! Como reclamava o coitado! Por haver nascido no dia 26 de dezembro, também mereceu um nome para lá de significativo, tendo como resultado final: Edelmar de Jesus Britto. Debochava muito do próprio nome, mas não reclamou ao ver perpetuada a sina com a homenagem feita por minha mãe ao seu filho mais novo: Edelmar de Jesus Britto... JR!
Dedé era uma pessoa expansiva, carismática, que teria tranquilamente chegado à prefeitura da cidade caso tivesse pretensões políticas. Preferiu seguir a vida como a matriarca de uma “ninhada” de 7 filhos e algumas pencas de afilhados.
Quando jovem, era hipocondríaca. Ia ao médico com frequência, sempre queixando-se de doenças de difícil diagnóstico. Em uma dessas visitas, como se inspirado por uma luz divina, o pobre doutor receitou aquela que seria a cura para todos os males de Dedé até o fim de seus dias: duas garrafas de cerveja diariamente!
Encantada pelos efeitos relaxantes do “refresco de malte”, Dedé sossegou. Nunca mais ficou doente mas fazia questão de encontrar algum grau de parentesco com todos os médicos que lhe cruzavam o caminho: “Dr Roberto Viana? Você não seria o Betinho, filho de Rosinha Aranha, prima de terceiro grau de meu pai, lá de Viana?”
E assim passava seus dias depois de “aposentada” das funções de dona de casa. Folheava a lista telefônica em busca de parentes perdidos e desaparecidos. A primeira coisa que perguntava quando apresentada a alguém era: “Fulano de Quê?”. E começava a esmiuçar o parentesco da pobre criatura.
Em um dos últimos contatos que tive com ela, lembro-me de perguntar-lhe se estava tudo bem. A resposta foi: “Não, minha filha... Agora vou morrer... Tiraram-me as cervejas!”. E realmente foi-se, a esmiuçar o parentesco dos anjos, um pouco depois desse encontro, aos 93 anos de idade. Bença, Vó Dedé!

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