Vó Dedé
Silvia Britto
Como estar
em São Luis e impedir que a infância me invada o coração, cheia de lembranças
de pessoas inesquecíveis e queridas? Vó Dedé é um dos personagens mais
marcantes e inesquecíveis que já cruzaram o meu caminho.
Nascida
Edeltrudes Aranha, casa-se muito nova com Edmar Britto. Logo lhes nasce o
primeiro filho, meu pai, a quem foi dada a honra de receber o resultado do
enlace dos nomes do jovem casal: Edelmar! Como reclamava o coitado! Por haver
nascido no dia 26 de dezembro, também mereceu um nome para lá de significativo,
tendo como resultado final: Edelmar de Jesus Britto. Debochava muito do próprio
nome, mas não reclamou ao ver perpetuada a sina com a homenagem feita por minha
mãe ao seu filho mais novo: Edelmar de Jesus Britto... JR!
Dedé era uma
pessoa expansiva, carismática, que teria tranquilamente chegado à prefeitura da
cidade caso tivesse pretensões políticas. Preferiu seguir a vida como a
matriarca de uma “ninhada” de 7 filhos e algumas pencas de afilhados.
Quando
jovem, era hipocondríaca. Ia ao médico com frequência, sempre queixando-se de
doenças de difícil diagnóstico. Em uma dessas visitas, como se inspirado por
uma luz divina, o pobre doutor receitou aquela que seria a cura para todos os
males de Dedé até o fim de seus dias: duas garrafas de cerveja diariamente!
Encantada
pelos efeitos relaxantes do “refresco de malte”, Dedé sossegou. Nunca mais
ficou doente mas fazia questão de encontrar algum grau de parentesco com todos
os médicos que lhe cruzavam o caminho: “Dr Roberto Viana? Você não seria o
Betinho, filho de Rosinha Aranha, prima de terceiro grau de meu pai, lá de
Viana?”
E assim
passava seus dias depois de “aposentada” das funções de dona de casa. Folheava
a lista telefônica em busca de parentes perdidos e desaparecidos. A primeira
coisa que perguntava quando apresentada a alguém era: “Fulano de Quê?”. E
começava a esmiuçar o parentesco da pobre criatura.
Em um dos
últimos contatos que tive com ela, lembro-me de perguntar-lhe se estava tudo
bem. A resposta foi: “Não, minha filha... Agora vou morrer... Tiraram-me as
cervejas!”. E realmente foi-se, a esmiuçar o parentesco dos anjos, um pouco
depois desse encontro, aos 93 anos de idade. Bença, Vó Dedé!
Nenhum comentário:
Postar um comentário