Silvia Britto
Pediram-me que escrevesse sobre minha paixão pelo Botafogo. Fiquei
tensa! Como usar palavras e fazer jus a um sentimento que está encravado dentro
do peito? Ser Botafogo é orgânico, faz parte de mim desde que me entendo por
gente e ainda não sabia dar nome a esse sentimento.
Cresci numa família de flamenguistas roxos. Lembro-me de que, quando
pequena, ouvia gritos e desabafos sobre esse tal de Flamengo ecoando pela casa
como se fosse começar uma guerra. Tinha medo! Sou de paz! Acredito na guerra
feita pelas paixões, pelas ideias. De alguma forma não sentia que fazia parte
daquele clã roxo.
Mas um dia entendi tudo.
Era uma vez uma Copa do Mundo, ano 1974, Alemanha. A balbúrdia pelas ruas era contagiante, todos esperando por um tal de "Tetra". Jogo da seleção, com uma breve apresentação dos jogadores. Eis que me aparece uma figura loira, fazendo maravilhas com a bola e vestindo uma camisa linda e imponente. Quando deram um close no emblema do time, quase perdi a respiração! Uma estrela linda e branca reinava absoluta dentro do emblema. Foi fulminante. A partir daí, só tinha olhos para aquele jogador lindo (acreditem-me os mais novos, pior que o Neymar chupando limão!), Marinho Chagas.
Então entendi o nome do sentimento que carregava no peito: BOTAFOGO!
É muito mais que um sentimento, é fisiológico. Foi a primeira vez que
experimentei aquilo na vida. E entreguei-me. Paixão que acaricia, que bate, que
irrita, que dá vontade de gritar pela janela, que faz com que a vida seja linda
também em preto e branco. O nome disso é BOTAFOGO!
E a estrela virou bandeira, que virou camisa, que virou time de futebol de botão e que, até hoje, faz meu coração disparar quando escuto o apito do juiz iniciando a partida.
Quando me perguntam meu nome, respondo: "Silvia Helena, sou
Botafogo!"
Amor da minha vida!!
ResponderExcluirHavia uma anedota, antiiiga, em que um espanhol, desembarcando no Rio de Janeiro, deu com a torcida do Botafogo, aos gritos: "BOTAFOGO!" "BOTAFOGO!". O espanhol, seguiu a torcida e a cada 'BOTAFOGO!", completava "en el palacio del gobierno". deixou de ser piada, no entanto, quando João Saldanha, o técnico, escalado para a seleção brasileira que jogaria a copa de 70, convocou seu meia, Afonsinho, para a seleção. Médici, o general presidente de então, mandou que o técnico o descartasse. Usava barba! Era subversivo! Até Gilberto Gil mandou recado ao seu Prezado Amigo Afonsinho! João Saldanha, como o espanhol, mandou o recado por manchete de jornal: "O senhor cuide de seus ministros porque de meus jogadores cuido eu!" Foi sorte que o João Saldanha não tenha sido preso, por isto. Mas saiu! E veio o Zagalo, nome de peso, que ao lado de Didi, Garrincha e Nilton Santos formou a melhor seleção brasileira de todos os tempos: o Botafogo, digo, a de 1958. E com o Zagalo, veio o Dadá Maravilha, paixão do general. P.S. sobre time de futebol representar a seleção: em 1965, foi inaugurado o Estádio Magalhães Pinto, o "Mineirão", e, para coroar os festejos da inauguração, organizou-se um amistoso entre a Seleção Brasileira e a do Uruguai. Pela primeira vez na história do futebol brasileiro, um time, a Sociedade Esportiva Palmeiras, foi convidado para compor toda a delegação, do técnico ao massagista, do goleiro ao ponta-esquerda, incluindo os reservas. Uma primazia única em reconhecimento a uma das melhores equipes do País na época, que vencia os adversários, convencia e encantava de tal maneira que recebeu da imprensa e do povo a alcunha de "Academia de Futebol". A partida foi realizada no dia 7 de setembro (data da independência brasileira), e o Palmeiras derrotou o Uruguai por 3 a 018 .!
ResponderExcluirO placar foi a 3 a 0, pro Palmeiras, digo, Seleção!
ResponderExcluirPor isso que em São Paulo eu sou Verdão, Mau! Beijo, meu Mau!!
ResponderExcluirBela crônica, bonita história, Silvia!
ResponderExcluirObrigada, querido Saint-Clair. Acho que você me entendeu bonitinho, não, Glorioso amigo? Beijocas Alvinegras!
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